• 13 setembro

    Escoliose nem sempre causa dor. Saiba reconhecer esse desvio de coluna

    Muitas pessoas guardam nas suas memórias de infância uma típica exortação materna —olha a postura, meu filho! Porém, para parte dessas crianças, alinhar os ombros, os quadris e se manter ereto era uma tarefa impossível. Isso porque o desalinho poderia ter como causa uma curvatura lateral anômala da coluna vertebral. A esse problema se dá o nome de escoliose. 

    A condição afeta de 2% a 3% da população em geral, e é mais prevalente entre as meninas, que ainda têm 8 vezes mais chances de a curvatura progredir, especialmente na adolescência. A situação poderá ser tão grave que a indicação cirúrgica será a única solução. Os dados são da Fundação Nacional para a Escoliose, dos Estados Unidos. 

    Entre os médicos, o maior desafio dessa enfermidade é que, na maioria das vezes, não se conhece a causa de seu aparecimento. Apesar disso, nem toda escoliose é patológica, ou seja, pode ser definida como uma doença. Em muitos casos, a conduta médica pode ser apenas observar e acompanhar a evolução.

    Entenda o problema 

    A sua coluna foi projetada para estar alinhada ao seu próprio eixo. Quando ocorre uma rotação ou o desvio desse ponto observa-se uma curvatura, ou seja, a coluna pende para um lado, de forma que, quando a pessoa é observada de costas, há um desnivelamento dos ombros. A depender da extensão desse desnível ou a origem do problema, a escoliose será considerada patológica ou não.

    Possíveis causas 

    Em 80% dos casos, a origem da escoliose é desconhecida e os médicos se referem a ela como idiopática. A escoliose é assim classificada: 

    — Infantil - acontece até os 3 anos de idade e é rara; 

    — Juvenil - de 3 até 10 anos - corresponde de 20% a 30% dos casos; 

    — Do adolescente - mais comum em 80% dos casos, a partir dos 10 anos de idade. Nessa faixa etária, as meninas são mais afetadas;

    — Do adulto - geralmente presente na infância ou na adolescência, só foi detectada após os 18 anos. 

    Outras causas possíveis 

    Escoliose congênita: a pessoa nasce com o problema, cuja causa poderá decorrer da má formação de uma vértebra, por exemplo; 

    Doenças neurológicas: como a paralisia cerebral, poliomelite ou mielomeningocele. 

    E atenção: a escoliose não tem como causa carregar mochilas escolares ou objetos pesados apenas de um dos lados do corpo, ou mesmo práticas esportivas, postura incorreta ao dormir, e até ficar muito tempo em pé ou sentado. Contudo, isso não significa que não é preciso ter cuidado com a postura e o excesso de peso. 

    A escoliose pode ser hereditária?

    De acordo com Fernando Herrero, professor da divisão de cirurgia de coluna do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), cerca de 3 em cada 10 pessoas com escoliose idiopática têm histórico familiar.

    "Os principais estudos sobre a origem da escoliose apontam para um componente hereditário, o que se confirma pela maior ocorrência dela entre irmãos gêmeos", diz o médico. "Além disso, aproximadamente 1 em cada 3 crianças, cujos pais tenham escoliose, desenvolverão o problema", completa. 

    Como identificar os sintomas

    Geralmente, a escoliose leve não apresenta sintomas. De 20% a 30% das pessoas poderão sentir dor nas costas. No entanto, os sinais mais comuns são os indicados abaixo: 

    Diferença na altura dos ombros; 

    Assimetria nas mamas das meninas;

    Presença de gibosidade nas costas (saliência);

    Cabeça não centralizada; 

    Cabeça não centralizada;

    Escápula mais alta e possivelmente mais proeminente de um lado; 

    Espaços alterados entre os braços e o tronco; 

    Um lado do quadril mais proeminente. 

    A hora certa de procurar um médico

    Na maioria das vezes, a identificação da escoliose se dá por meio de triagem feita nas escolas pelos professores de educação física, ou mesmo em casa, quando os pais notam o desalinhamento do ombro ao vestir as crianças. Ao perceber algum dos sinais acima, procure um especialista. 

    Qual é o médico mais indicado? 

    Como, em geral, a escoliose pode ser notada já na infância, por vezes, o primeiro médico a examinar a criança será o pediatra ou o clínico geral.

    Contudo, ela deverá ser encaminhada para um ortopedista que terá melhores condições de avaliar o grau da angulação da escoliose, identificar a causa, se houver, além de seus possíveis desdobramentos, conforme o potencial de crescimento do paciente.

    Como é feito o diagnóstico

    Ele é clínico, isto é, decorre do exame físico e de uma conversa com o médico. Este avaliará as possíveis alterações da coluna, o que inclui o chamado Teste de Adams que verifica a presença de gibosidade. 

    Eduardo Murilo Novak, presidente da SBOT-PR (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da Regional do Paraná), explica que é essencial que se faça uma radiografia da coluna. "O exame não só confirma o diagnóstico, como permite medir a angulação —a técnica se chama ângulo de Cobb— e ainda possibilita calcular o seu potencial agravamento. Quanto mais cedo fizermos o diagnóstico, mais fácil será a correção e controle do desvio", fala o especialista. 

    Como é feito o tratamento 

    A gravidade da curva (ela é medida em graus) vai orientar o médico na decisão da melhor forma de tratamento. A idade é outro fator a influenciar a estratégia terapêutica. A depender da idade do paciente, o potencial crescimento orientará o caminho a seguir

    Quando a alteração é pequena (menos que 20 graus), e o crescimento já chegou no seu limite, a indicação é o acompanhamento semestral para observar eventual piora. A radiografia deve ser feita uma vez a cada ano.

    Já nos casos graves, quando a curvatura é de 25 a 50 graus (e até acima desses limites), a cirurgia é a única forma de corrigir a escoliose. A intervenção é conhecida como artrodese da coluna e pode até ser feita em mais de uma fase, com abertura da parte da frente e de trás do tronco para a introdução de hastes e parafusos que garantam o alinhamento da coluna. 

    Usar colete é sempre necessário? 

    O colete será a solução nos casos em que se deseja evitar a progressão da escoliose. Ele é utilizado na presença das seguintes características: 

    Curva moderada: (25 a 40 graus);

    Curva progressiva: quando ocorre uma progressão periódica da curvatura, o que dependerá da idade, do gênero e da maturação do esqueleto da pessoa;

    Crescimento em curso: a idade do paciente revela se ele continuará a crescer. 

    Se eu fizer só fisioterapia vai resolver? 

    "Grandes curvaturas podem causar dor, diferença no tamanho das pernas e alteração na forma de caminhar, além de desencadear problemas respiratórios, cardiovasculares e até digestivos", esclarece Hildemberg Santiago, professor adjunto do curso de fisioterapia do ISB-UFAM (Instituto de Saúde e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas). Portanto, a fisioterapia é aliada ao orientar práticas de realinhamento postural, o que melhora a respiração e o equilíbrio. 

    Apesar disso, todos os especialistas consultados nesta matéria advertem: há pouca evidência científica sobre os benefícios da fisioterapia para interromper o avanço da escoliose, em especial durante o período de crescimento. Importante saber que após essa fase do desenvolvimento é raro que a escoliose progrida rapidamente.

    Antes de aderir a qualquer tipo de tratamento que promete corrigir a escoliose, "colocar a coluna no lugar" por meio de massagem ou tração etc, sem o uso do colete, consulte um médico de sua confiança. 

    O que acontece se você não tratar a escoliose? 

    Caso o tratamento não seja realizado ou ele ocorra de forma inadequada, a consequência é a progressão da curva da coluna. A idade e a gravidade dela são os dois fatores que determinam a possibilidade de progressão da escoliose. Por exemplo, crianças menores de 10 anos de idade, com curvas acima de 35 graus, provavelmente irão piorar sem o devido tratamento, principalmente se forem meninas.

    Dá para prevenir? 

    Não é possível evitar que a escoliose apareça. Mas dá para prevenir a progressão da curvatura. Daí a importância do diagnóstico precoce. Quanto mais cedo for o diagnóstico, maiores serão as chances de ter um bom resultado.

    Fonte: UOL-VIVABEM

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